- Você vai ficar de DP! - Levantei meus olhos para observar a moça do expediente, enquanto pegava um trabalho, numa sexta à tarde e pedia que ela entregasse ao meu professor, pois não assistiria às aulas à sexta à noite. - Vários alunos adventistas já passaram por aqui, - continuou ela - e, com certeza, você vai ficar de DP.
Minhas aulas haviam começado há alguns dias. Não sabia muito bem como seria minha vida como estudante de matemática numa faculdade não adventista no período noturno, mas sabia que pegar dependência em alguma matéria não seria nada bom.
Realmente eu não via como poderia passar em matérias que eu não assistiria aula alguma e em matérias que eu estouraria em faltas, por grande parte das aulas ser na sexta feira à noite.
Conversei com meu coordenador. Ele me disse que não adiantaria aparecer com cartas de pastores e nem impor aos meus professores que me ajudassem, apresentando várias leis. Tudo o que eu precisava era conversar com eles. E o que decidissem estaria decidido. Assim o fiz e meus professores pediram que eu aprendesse a matéria. Teria que me esforçar mais, já que não assistiria às explicações.
Meus colegas de classe, ao saberem disso, insistiram comigo, para assistir às aulas, pedir ao meu pastor que abrisse uma exceção que Deus entenderia. Entretanto, não podia fechar os olhos para tudo o que Deus tinha feito por mim até ali, e dizer "daqui para frente eu me cuido. Não preciso mais de Você!"
O primeiro semestre passou. Todos se surpreenderam ao ver que, apesar de ter perdido muitas aulas, todas as minhas notas haviam sido altas.
Meu diretor se surpreendeu ao foi fazer minha rematrícula e ver que eu havia sido aprovada em tudo, até nas matérias de sexta à noite.
Nos semestres seguintes, além das aulas às sextas feiras à noite, também enfrentei problemas com aulas aos sábados durante o dia. Em momento algum, deixei de fazer a minha parte, estudei bastante, mas, o que realmente, me fez chegar ao último ano, sem nenhuma dependência, foi colocar tudo nas mãos de Deus.
Pude ouvir a conversa de uma professora com o meu coordenador, sobre o que fazer comigo, já que não assistiria aula nenhuma dela. Ele só disse que me dissesse o que era para estudar e desse trabalhos extras para compensar as faltas, se fosse necessário, porque eu conseguiria fazer.
Entretanto, o sábado não foi o único problema enfrentado no meu período de faculdade. Também havia a questão financeira. Saí do ensino médio e entrei direto na faculdade, sem trabalho. Meus pais também não tinham a mínima condição de pagar uma faculdade. Mesmo assim, confiei que Deus cuidaria do assunto. Muitos me chamaram de louca, insana, mas tudo o que eu fiz foi entregar nas mãos de Deus.
Ellen White diz, no livro Mensagem aos Jovens: "Que os jovens que necessitam de instrução, empenhem-se com determinação para obtê-la. Não espereis uma oportunidade, mas forjai-a vós mesmos. Aproveitai qualquer meio que se apresente. Praticai a economia; não gasteis o vosso dinheiro na satisfação do apetite nem em divertimentos. Sede resolutos em vos tornardes úteis e eficientes como Deus o quer. Sede pontuais e fiéis em tudo quanto empreenderdes. Aproveitai toda oportunidade ao vosso alcance para fortalecer o intelecto. Seja o estudo de livros combinado com um útil trabalho manual, e assegurai-vos por esforço fiel, vigilância e oração, a sabedoria que é de cima. Isto vos dará educação completa. Assim podeis crescer no caráter e ter influência sobre outras mentes, habilitando-vos a conduzi-las na vereda da justiça e santidade." (pág.174).
Me impressionei ao ler "forjai-a vós mesmos". Muitos dizem não ter oportunidade, não ter condições financeiras. Eu também poderia dizer isso, mas não esperei as oportunidades. Forjei-as e Deus fez com que acontecesse.
Conclui o meu curso no mesmo tempo que os demais e consegui terminar de pagar as mensalidades um mês antes do término das aulas.
Hoje, sou professora em um internato da nossa rede de educação. Sou muito grata a Deus por não ter me desamparado em momento algum.
Taynan Silva do Nascimento
